Presente e futuroA rádio é um meio de comunicação extraordinariamente rico, com uma narrativa singular e fascinante. A compreensão da Rádio não pode dissociar-se do país e da sua História, no contexto do desenvolvimento económico, cultural e social, numa observação que se deve desenvolver a partir das estruturas que desenham a operacionalidade deste meio.
Os desafios tecnológicos e de evolução do mercado têm vindo a influenciar a rádio, nomeadamente na especificidade das estações. Conteúdos e estilo de programação especializam-se em função de públicos específicos, num processo de profissionalização da rádio, baseado em critérios estruturais designados pelos estudos de mercado para o meio rádio. A programação das estações e os formatos criados de acordo com a pluralidade de estilos de vida, grupos sociais, gostos e expectativas do público, num raio de acção que parte do FM e se estende para a Internet.
A mudança da rádio enquanto meio, é um fenómeno que se verifica desde que a rádio enveredou, de forma irreversível, por um esquema de negócio mais profissional, baseado em técnicas modernas de gestão e de marketing.
Estas mudanças estão ainda em desenvolvimento, com um esforço de comunicação das estações para se aproximarem cada vez mais dos “seus” ouvintes. Ao longo dos últimos anos, temos observado um processo de adaptação do meio radiofónico aos novos contextos económicos e tecnológicos, ao mesmo tempo que cada rádio tem procurado satisfazer as necessidades dos ouvintes. A tentativa de se reafirmar, depois de um período de perda de vitalidade face às propostas dos outros media – especialmente dos mais recentes canais de comunicação – tem sido bastante compensatória.
A rádio vive neste momento uma fase de transição que reflecte a passagem de uma comunicação “dialógica” para um modelo de comunicação interactivo, baseado em novos sistemas operacionais. Os dois modelos convivem numa fase de transição para um esquema de comunicação absolutamente bidireccional, que irá desenvolver-se num novo princípio interactivo. As transformações ocorrem ao nível da difusão, dos conteúdos, do discurso e da recepção, num desenho em que a rádio enfrenta o grande desafio de proceder à alteração do seu conceito.
A emissão digital traduz uma ligação ao multimédia, favorecendo a interactividade, ao mesmo tempo que faz desenvolver uma nova linguagem, pela incorporação de novos elementos à sua estrutura discursiva e potencia a criação de novos conteúdos para a mensagem radiofónica. Em paralelo, o esquema de recepção acompanha esta evolução, num novo modelo que transforma o ouvinte num utilizador e favorece a fragmentação das audiências em função dos seus interesses específicos.
A Internet veio modificar a forma da recepção radiofónica, transformando o conceito de receptor noutro que se aproxima mais da noção de usuário, pela forma como o ouvinte/utilizador toma uma atitude activa de pesquisa e consumo dos conteúdos. Muito embora ainda não tenhamos deixado de ouvir rádio através dos receptores tradicionais, muitas vezes fazemo-lo enquanto consultamos a página “web” de uma estação e até mesmo continuamos a navegar noutras páginas mantendo a emissão de rádio activa. As emissões de rádio através da internet já são uma realidade. Ainda que com algumas limitações, tais como os softwares de aplicação muitas vezes lentos e com algumas incompatibilidades – não permitindo ao utilizador ligar-se e acompanhar a emissão on-line – a largura da banda que ainda não é suficiente para o crescente número de utilizadores destas aplicações entre outras.
Nesta conjuntura, a ameaça não é a Internet em si, mas a Internet enquanto novo suporte para a rádio, que assim pode perder ouvintes no seu suporte tradicional, para ganhar novos ouvintes on-line. O que ainda não se sabe, é se com os avanços da tecnologia, dos programas informáticos e o consequente aumento da utilização da Internet, os internautas irão ouvir as estações que estão na rede e disponibilizam a escuta das suas emissões em tempo real, ou se passarão a escutar rádio cuja existência se limite à rede e que graças às possibilidades tecnológicas, reconverte o conceito de rádio. Essa reformulação do conceito pode decorrer da adopção de um esquema de múltiplos canais, da total ausência da presença humana, ou por outros factores relacionados com a discursividade do próprio meio, que modificam o habitual esquema de recepção da comunicação radiofónica e irão desenvolver novas maneiras de usar a rádio graças ao potencial da Internet.
Por outro lado, todos os avanços inerentes às novas tecnologias poderão traçar também caminhos no sentido de o habitual esquema de recepção da comunicação radiofónica, poder continuar paralelamente à internet e que a rádio evolua multidireccionalmente, mesmo provocando uma certa mobilidade à internet que ainda hoje se torna difícil comparativamente ao nosso habitual recptor FM com (RDS) que levamos no nosso jipe para a montanha.